Querido,
Como a vida passa assim tão
rápido? Ontem mesmo não era sábado? Não era dia 1? Ontem mesmo não joguei terra
com cuidado em cima da sementinha? Não foi ontem que plantei bananeira, que
brinquei de esconde-esconde, que tomei guaraná e comi pão na vovó? A vida engole
o tempo, é? O tempo não dorme, querido? Diz pra mim quando eu vou terminar
aquele samba que você nem musicou? Quantos minutos ainda vão ser esmagados pelo
trânsito, pelo asfalto, pela carteira assinada e pelo supermercado? Agora que
tenho carimbo, diz pro tempo aceitar aquele tarja preta pra gente poder olhar
pras estrelas sem medo de criar verruga?